A Sala é escura.
Paredes escuras. Não para ser assustador ou sombrio.
Apenas por que há muito que não é visitada.
Gostaria de dizer que é uma sala especial.
Mas não o é.
Sem quadros. Sem ornamentos de qualquer espécie.
Sem janelas, logo sem cortinas também.
Uma Sala vazia. Lisa. Apática
Engraçado neh.
Sempre imaginei que este tipo de Sala seria repleto de belezas.
Encantos. Magia.
Sempre imaginei ma sala como esta cheia de estantes.
Livros, rascunhos, fragmentos de manuscritos, empoeirados, tudo empoeirado.
Velhas estátuas. Observadoras de tempos antigos.
Quadros. Imagens já esquecidas de pessoas ainda mais esquecidas.
Mas não. Não neste Sala. Esta era vazia. Limpa.
Escura. Mas como já mencionei. Uma escuridão agradável.
Nada de arrepios ou calafrios.
Nenhuma sensação de mistério. Nada oculto.
Nesta Sala há apenas um objeto.
Um objeto simples. Tão sem encantos e magia como a sala que o abriga.
Um pequeno baú.
De madeira. Uma fita de couro e uma fivela de madeira são a única barreira entre seu interior e a curiosidade de um transgressor qualquer.
Contudo. Posso afirmar com verdadeira certeza, que neste Baú, largado displicentemente nesta Sala apagada e sem vida, estão guardados segredos dos mais preciosos.
Isto mesmo. Trata-se de um Baú de Segredos. Na verdade, um Baú de Lembranças.
Mas, meu caros leitores, hão de convir comigo, que toda lembrança secreto, é também um segredo. Portanto, não há problemas em guardar estas lembranças num Baú, seja ele de segredos ou lembranças
Defendo esta causa com veemência, pois se trata dos meus próprios segredos, ou melhor dizendo, lembranças.
Minhas doces lembranças.
Meus suaves segredos.
Minha música, minha poesia.
Minha vida, minha história. Eu.
Anos se passam. Anos acontecem, sem que eu visite minha Sala.
Sem que eu abra meu Baú.
Não por medo, não por reverência. Não por motivo algum ou nenhum.
Apenas por que, se tenho uma Sala Vazia, e uma Baú de Segredos, ou Lembranças, prefiro que estes cumpram seu papel, encerrando em si tudo aquilo que não devo, nem quero levar comigo.
Acontece, que te tempos em tempos, preciso voltar aqui.
Te tempos em tempo tenho que me deparar com as mesmas paredes nuas, com a mesma limpeza entediante.
De tempos em tempo tenho que me lembrar, caso contrário, as lembranças deixariam de ser lembranças. E o que seriam então? Deslembranças.
Em memória daqueles que passaram.
Daquelas viveram.
E de todos os que estiveram lá.
3 comentários:
E quem não há de guardar os seu segredos dentro de um bauzinho em si, denominado por hora como coração?
Isso me fez lembrar fragmentos do livro O Alquimista... O quanto seu personagem andou por lugares e lugares em busca de seu tesouro perdido e acabou pelo auto-conhecimento, que eram por fim as coisas que ele guardava dentro da alma...
Sei que vc não gosta muitos desses segmentos literários... Mas foi apenas para ilustrar meus pensamentos....
Já diz o clichê: "Relembrar é viver". A história pessoal, os sentimentos guardados em lembranças são tão intrigantes como a história do mundo. Explicam muito o que somos e por que somos assim. Uma certa dor e revolta podem surgir de investigações a esse baú empoeirado, também. Mesmo assim, fascinante. Histórias, causos, pessoas, risos e lágrimas que compõem esse grande mosaico que somos nós. Lindo texto! :) Bjokas
Realmente se faz necessário de tempos em tempos abrirmos esse tal "baú";Mas note que: Se lá estão guardadas lembranças,sentimentos,risos,lagrimas,sensações e emoções é preciso ter cautela ao abrir, afinal,dependendo do que está contido no seu interior,
Podemos sem perceber estar abrindo a caixa de pandora..!Eu particularmente prefiro evitar,acredito piamente que existam pedaços de nossas vidas que precisam e devem ser descartados completamente,porém,não antes de tirarmos todas as lições necessárias para nosso crescimento pessoal!
Beijos!
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